Em meio aos abadás e blocos temáticos, um em especial se destaca pela criatividade e irreverência. Composto apenas por homens travestidos, As Muquiranas chega, em 2020, aos seus 55 anos de criação.
Para este ano, o bloco convidou o folião a adentrar no mundo da personagem infantil Alice, do clássico de Lewis Carroll, “Alice no País das Maravilhas”. Novamente, o bloco contou com a animação de Léo Santana, Parangolé e Psirico, à frente dos desfiles.
Irreconhecível em um vestido azul e de peruca loira, Márcio Victor arrastou milhares de “Alices” pelas ruas do Circuito Osmar (Campo Grande). Com quase duas horas de atraso, o cantor iniciou o percurso por volta das 15h30.
No repertório, não faltaram sucessos da banda, como “Pode Pular” e “Tá Quente”. Márcio Victor foi lembrado várias vezes pelos foliões que volta e meia gritavam “Uh, é Márcio Victor!”.
Márcio Victor manteve a sua tradicional descida do trio, mas pediu que dessa vez, não fosse acompanhado por seguranças. No chão, com os associados, ele cantou “Tá Quente”, aposta do Psi para musica do Carnaval.
Luta contra o assédio
Apesar do bom humor característico do folião, a atração também já foi alvo polêmica. Em 2018, após a denúncia de duas mulheres que sofreram assédio no bloco, a hashtag “#UmCarnavalSemMuquiranas” foi uma das mais comentadas nas redes sociais.
Para o Carnaval de Salvador 2020, o bloco apostou em uma parceria com o Ministério Público da Bahia (MP-BA). A ideia é conscientizar o associado a respeito da não à violência contra a mulher e ao assédio e importunação sexual.

Para o professor André Oliveira, 45, o comportamento não deve ser visto como algo apenas do bloco Muquiranas. “Infelizmente a falta de respeito traduz não especificamente o Muquiranas e sim o Carnaval como um todo. É chato termos ficado com essa fama”, afirma.
O técnico petroquímico Raphael Silva, 26, diz que é o problema está ligado a inclusão de novos associados. Raphael, que considera o bloco uma verdadeira família, conta que a má fama tem prejudicado até mesmo na hora da paquera.
“De dois anos pra cá o Muquiranas tem incorporado muitos associados novos que não entendem o espírito do bloco. Nós somos uma família que gosta de se divertir, mas claro, sempre respeitando o próximo. Antigamente era mais fácil para abordar as mulheres na hora da paquera, hoje muitas têm medo de passar pelo bloco”, conta.
Outra polêmica envolvendo o bloco é o uso da pistola d’água, que não é apoiada pela direção. Mas o amor do folião pelo item é tão grande, que dificilmente se vê uma Muquirana sem o acessório.
“O uso da pistola já é algo cultural. A gente usa pra brincar com as crianças. Porém, tem que saber brincar”, diz o estudante João Vitor Borba, 19.
A prefeitura disponibiliza um canal especial para denunciar situações de violência contra a mulher, através do WhatsApp (71) 98622-5494, ou do site reparacao.salvador.ba.gov.br
*Sob supervisão do editor Vinícius Ribeiro